quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Mário de Andrade

Mário de Andrade (1893-1945)



Ode ao burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"–Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
–Um colar... –Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burgês!...
 
De Paulicéia desvairada (1922)

Lembrete para a compra de um certo livro


 correspondência de Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade

[...]

Imagine a coisa mais simples, mais extraordinária, mais comum, mais sensacional, etc., etc. (Madame de Sévigné) vou casar-me em breve. Avalie agora o meu estado de espírito, fruto dos mil e um incidentes que me roubam o tempo e, com ele, a ocasião de continuar nossa conversa, para mim tão deleitosa. Um homem que vai casar é um homem à parte. Ainda hei de lhe escrever uma carta bem comprida, contando por miúdo o que tenho sentido, e que não é complicado mas também não é vulgar: um misto de inquietação, de desânimo, de alegria (alegria desenganada) e de mais uma porção de coisas. Você conhece mais ou menos meu feitio, e deve calcular a maneira como esse acontecimento impressiona minha sensibilidade. Resumindo, posso dizer que tenho sofrido um pedacinho com esse original prazer de casar. Desconfio, porém, que nisso tudo anda um pouco de literatura. Desconfio ainda de meu temperamento de exceção. Exceção é quase sempre falta de saúde física ou moral, não acha?

[...] 

Drummond em carta a Mário de Andrade de 20 de maio de 1925


CARLOS & MÁRIO
Correspondência de Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade 1924-1945.
 
Prefácios e notas de Silviano Santiago
1ª Edição: 2003
Bem-Te-Vi Produções Literárias 
 Em comemoração ao centenário de Carlos Drummond de 
Andrade, o livro Carlos & Mário. Trata-se da correspondência mantida entre 
Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade entre 1924 e 1945. A de 
Drummond é inédita, e a de Mário, aqui reeditada, foi publicada por Carlos 
nos anos 80, com apresentação e notas de sua autoria. O prefácio e as notas 
para as cartas de Drummond são de Silviano Santiago, e a organização geral do 
livro e iconografia de Lélia Coelho Frota. 320 imagens ilustram as suas 616 
páginas.

LIBRE

A Liga Brasileira de Editoras (LIBRE) é uma rede de editoras independentes, que trabalham cooperativamente, pelo fortalecimento de seus negócios, do mercado editorial e da bibliodiversidade. É uma associação de interesse público, sem fins lucrativos, filiação político-partidária, livre e independente de órgãos públicos e governamentais, constituida em 01 de agosto de 2002, de duração indeterminada, entidade máxima de representação das editoras independentes de todo o Brasil.
  
A LIBRE tem por missão preservar a bibliodiversidade no mercado editorial brasileiro por meio do fortalecimento do negócio da edição independente e constitui-se como uma rede de editores colaborativos em busca de reflexão e ação para a ampliação do público leitor, do fortalecimento das empresas editoriais independentes, e da criação de políticas públicas em favor do livro e da leitura.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

a morte do editor...

Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, comenta o tema do momento: o sefl-publishing, no blogue da Companhia das Letras:



"O tema mais discutido no momento no mercado editorial, principalmente nos Estados Unidos, é o self-publishing: as publicações digitais feitas diretamente pelos autores, sem a participação de qualquer editora. Em português, podemos chamá-las de “edições independentes”, ou “auto-edições”, numa tradução mais literal. Recentemente, o jornal inglês The Guardian divulgou que 28% dos livros da lista de mais vendidos do New York Times eram oriundos do tal self-publishing. Do jeito que a coisa vai, não tardarão as matérias sobre a “morte dos editores”, manifestações e movimentos, tipicamente americanos, por no-publishers ou algo do gênero.
Acho que o tema dá o que pensar e vale ser tratado com a maior isenção possível.
O sucesso extraordinário de livros que surgiram de auto-publicações como Cinquenta tons de cinza (traduzido e lançado no Brasil pela Intrínseca), ou Toda sua (em breve nas livrarias brasileiras pela Editora Paralela), tem agitado o mercado editorial."

Continue a ler AQUI


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Uma viagem sem fim



"Na Índia, muita gente se perde, é um país feito de propósito para isso."


O Noturno Indiano de Antonio Tabucchi é uma pérola de ritmo e concisão: sua brevidade é uma cortina de fumaça, que oscila entre a revelação e o encobrimento de suas histórias entrelaçadas. Um homem viaja à Índia em busca dos rastros de um amigo desaparecido – e, no caminho, conhece pessoas, vê lugares, experimenta a miséria e o luxo, sem jamais passar mais de uma noite no mesmo lugar. Esse protagonista de nome incerto – origem e destino desconhecidos – é portátil: viaja apenas com uma mala pequena, sempre à mão. Sua jornada está aberta aos fluxos que chegam do percurso, assim como seu corpo. Suas feições mudam, ele não tem uma nação fixa, um idioma fixo, ou qualquer tipo de pertencimento – ele está lá para narrar.


(vale a pena ler mais do texto de Kelvin Falcão Klein, no blog da Cosac Naify, sobre Tabucchi: AQUI)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

capítulo um...


delírio fotográfico entre livros

Duas das imagens criadas pelo fotógrafo espanhol Pablo Genovés:




Underground New York Public Library

The Underground New York Public Library é um site criado pela marroquina Ourit Ben-Haim radicada em Nova Iorque e que reúne suas fotos de pessoas lendo no metrô – uma das marcas da cidade.

O link pra o site: Underground New York Public Library

E algumas fotos:




Tarefas infinitas


Organizada pelo Museu Gulbenkian, em colaboração com a Biblioteca de Arte e com curadoria de Paulo Pires do Vale, a mostra "Tarefas infinitas. Quando a arte e o livro se ilimitam" pretende pensar o modo como a arte e o livro se põe mutuamente à prova. O título remete para a resposta possível: o livro e a obra de arte apresentam-se como Tarefas Infinitas desenvolvidas num horizonte aberto sem fim.

De 20 de julho a 21 de outubro na Fundação Gulbenkian

Saber mais aqui: AQUI

domingo, 5 de agosto de 2012

imagem surpreendente de Drummond


© Acervo do Ponce de Leon. Carlos Drummond de Andrade, aos 23 anos de idade. Belo Horizonte, 1925.

Vasculhando diversos arquivos fotográficos em Belo Horizonte, o fotógrafo Fernando Rabelo encontrou no acervo do jornalista Ponce de Leon este retrato inédito do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), aos 23 anos de idade. 

No verso da foto Drummond escreveu uma dedicatória ao pai: “Ao papai, lembranças do filho Carlos. Belo Horizonte 13.10.1925.”

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